Por Marina Pechlivanis
É curioso ouvir de executivos as palavras “amor”, “inteligência espiritual” e “verdades do coração”, expressões que há alguns anos seriam motivo de piada nos escalões decisivos de muitas empresas. O primeiro passo foi dado por empresas e líderes mais audazes, que romperam barreiras lançando um novo modelo de cultura corporativa e um novo formato de gestão de empresa e gestão de marca. O humano colocado no centro como fonte de inspiração para os negócios, conceitos de “ganha, ganha, ganha”, a preocupação com o que nos rodeia, a responsabilidade social, os “negócios de impacto”…
No meio de tantas boas intenções, muitas marcas abusaram da boa vontade dos consumidores, dos funcionários e dos “stakeholders” prometendo relações e soluções ecossistémicas e sustentáveis que, na verdade, não passavam de um apelo de marketing, de um propósito transformado em slogan “cool” prometendo e promovendo o bem nas suas campanhas, mas não implementando nada disso na prática.
O que se escreve é bonito, tem até uma fundamentação comprovável, mas em boa parte não sai do papel. E se, por um lado, esse deveria ser um caminho irreversível para marcas e seus líderes seguirem, por outro, colocar tudo a perder é muito fácil. Muitas das vezes a questão é semântica, de significado.
Fala-se de um processo de mudança que está em diferentes níveis de entendimento pela sociedade afora, composta por pessoas de diferentes culturas, histórias, vivências. Urge restaurar a linguagem para que as mesmas coisas signifiquem as mesmas coisas para todos, ou o trabalho de organizar uma mudança, qualquer que seja, será muito complexo — talvez impossível.
O desejo de fazer um mundo melhor, mais justo e equilibrado… Quem diz que não quer? Mas, na hora da verdade, quem exatamente pratica? E mais: até mesmo as melhores das intenções podem não ser perfeitas para determinadas situações. Pode pensar que está a fazer o bem de acordo com o seu ponto de vista, mas pode também estar prejudicando alguém.
Moral da história: só dizer que tem um propósito não adianta. É preciso demonstrar também, de forma integrada, consciente e holística — o que não é tarefa fácil.
Está sem propósito? Ainda dá tempo de procurar um.